quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Por que os jovens buscam emoções cada vez mais fortes na hora do sexo?



Suingue, fetiche & Viagra. Por que os jovens buscam emoções cada vez mais fortes na hora do sexo


O sexo a dois, entre quatro paredes, pode estar correndo risco de extinção.
Principalmente no que depender da libido da moçada que hoje tem entre 18 e 30 anos.
Para boa parte dessa turma, a chamada geração millenium — que cresceu bombardeada por sites pornôs, programas eróticos da TV a cabo e por publicações que chegam a prometer um orgasmo por segundo —, uma transa “normal” já não basta.
Ficou chata, careta, sem graça. São meninos e meninas que, em sua maioria, perderam a virgindade bem mais cedo que seus pais, conforme explica a psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Há duas ou três décadas, os homens começavam a transar aos 16 anos e as mulheres aos 20”, diz.
“Hoje, a iniciação sexual acontece aos 15 para ambos os sexos.”
Ou seja, a comparação entre os gêneros aumentou e criou uma espécie de braço de ferro sexual em que a performance supera o desejo. Mais do que amar ou gozar, os jovens de hoje querem mostrar que são super-homens e mulheres-maravilha.
Ainda que para isso precisem recorrer aos superpoderes de anabolizantes sexuais contemporâneos, como os remédios contra impotência, as baladas liberais (versões modernas das antigas casas de suingue) e até práticas sadomasoquistas extremas, como a asfixia erótica.

Para entender como essa ditadura do prazer tem transformado jovens saudáveis, bonitos e inteligentes em verdadeiros aficionados por sexo, Marie Claire visitou duas casas de suingue, três baladas liberais e uma festa BDSM (sigla para Bandagem, Dominação, Sadismo e Masoquismo). Com vocês, um raio X do sexo sem fronteiras.

BALADA LIBERAL...


É quinta-feira de uma semana comum em São Paulo. Marcos*, 23 anos, Patrícia, 24, Camila, 25, e Rodolfo, 32, estão a caminho do Code Club International, a “balada liberal” que, ao lado do Nefertitti Club, tem apimentado a noite paulistana. Versão moderna das antigas casas de suingue — leia-se: sem o décor de gosto duvidoso, os espelhos no teto e os casais de meia-idade que encontraram na traição consentida uma forma de salvar o casamento — , os dois clubs são aparentemente normais. Têm pista de dança, djs da moda, lounges com sofás, áreas vips, sushibar e... uma portinha singela que conduz a um gigantesco labirinto de cortinas negras. Desse emaranhado de corredores saem pequenos “dark rooms” e, no caso do Code, uma enorme cama em formato de Kombi. Algo tão “kitsch” que talvez nem o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, famoso por seus exageros eróticos, tivesse coragem de filmar.

Ali, entre gemidos, sussurros e alguns “ei, você, me empresta uma camisinha?”, Marcos, a namorada Patrícia e outros 15 ou 20 jovens bonitos como eles participam de experiências sexuais de todos os tipos. Há quem se masturbe, troque de parceiro, transe somente com o oficial e quem — como nós da equipe de Marie Claire — só fique parado, estarrecido com uma cena que dificilmente sairá da cabeça. “É como um filme pornô, ao vivo. Com a diferença que, aqui, nós somos os atores principais”, diz Marcos. “E os diretores”, completa Patrícia.

Namorados desde os tempos de colégio, os dois perderam a virgindade juntos, aos 16 anos. Três anos mais tarde, começaram a sentir necessidade de viver outras experiências sem que isso representasse fim de namoro ou traição. “Um dia, de tanto assistir a documentários da TV a cabo sobre suinguers, nos perguntamos se essa não seria a nossa saída”, diz Patrícia. Pouco tempo depois, ela e o namorado começaram a frequentar casas e festas do gênero. “No início, não conseguíamos nos misturar com os outros casais. Além da timidez, o fato de eles serem mais velhos e meio fora de forma atrapalhava”, diz Marcos. Por mais estranho que aquilo fosse, no entanto, era também excitante. “Saíamos loucos para transar e acabávamos indo para algum motel. Em “momentos de desejo incontrolável”, a coisa rolava ali mesmo, em cantinhos reservados da boate.

Aos poucos, e conforme descobriam que jovens liberais como eles estavam trocando as casas de suingue por essas baladas mais descoladas, Marcos e Patrícia foram se soltando. Há três anos fizeram sexo pela primeira vez com outro casal e acharam “gostoso, apesar de estranho”. “No início rola ciúme e é preciso conversar muito e estipular cuidados e práticas que não machuquem”, diz Patrícia. “Só deve haver troca quando os dois parceiros do lado de lá forem tão interessantes quanto os do lado de cá. Todos têm de estar a fim e, se por acaso, no meio da transa, a coisa estiver mais prazerosa para um do que para o outro, tudo deve ser interrompido.” Também não vale trocar telefone ou marcar encontro às escondidas. “Na medida em que isso é respeitado, o ciúme vai, aos poucos, se transformando em tesão”, diz Marcos. “Ver seu namorado transando com outra mulher pode ser uma delícia. Ainda mais se ele estiver olhando para os seus olhos”, diz Patrícia.

Com tudo isso, não é difícil entender por que as imagens (e o cheiro de sexo) dessas noitadas que recebem entre 250 e 300 casais custam a sair da memória. “Durante a semana, quando estamos a sós, aquilo ainda nos excita. É como um filme interior, acionado ao primeiro estímulo”, diz Patrícia. Ela e o namorado ainda moram com os pais (de quem omitem a verdade) e batem ponto no Code Club uma ou duas vezes por semana. A entrada, com nome na lista, custa R$ 100 por casal, com consumação incluída. O que, no fim do mês, significa menos R$ 800 na conta do casal. “Não é muito se comparado ao que gastamos numa boate normal. Só que aqui, além de beber e dançar, ainda melhoramos nosso desempenho sexual”, diz Patrícia.

Embora pudesse ser fruto de uma história isolada, essa busca pelo desempenho de excelência por meio do suingue é, segundo o psiquiatra paulista Alexandre Saddeh, do Hospital das Clínicas de São Paulo, um traço comum no comportamento do jovem. “Cerca de 50% dos meus pacientes de 20 a 30 anos foram ou vão habitualmente a esse tipo de casa noturna. É a balada da moda”, afirma. Na opinião do especialista, além de refletir uma hipersexualização do jovem, o novo hábito é consequência de uma cultura imediatista. “A sociedade está mais ansiosa. Queremos tudo para ontem. Inclusive, o tesão.”


VIAGRA E PODER...


César, 30 anos, é um charmoso diplomata carioca, o “genro que toda sogra pediu a Deus”. Formado em direito por uma importante universidade pública, ele decidiu investir na carreira diplomática quando completou 25 anos. Largou o escritório de advocacia em que trabalhava e passou um ano estudando para a prova do Itamaraty. “Quando passei no exame, me vi sozinho em Brasília, um lugar árido, sem esquinas e sem amigos”, diz. “Ali, a moçada — não só os diplomatas em formação mas, principalmente, os filhos de ministros e políticos importantes — tem muito dinheiro e tempo livre.” São pessoas que, com excesso de liberdade, encontram no sexo e nas drogas uma maneira de fugir da rotina. Para elas, o barato é organizar orgias pelos apartamentos funcionais. “Há muito álcool, cocaína, ecstasy e, sobretudo, remédio contra impotência. O que explica por que, em Brasília, descobri que o melhor amigo do homem não é o cão, como diz o ditado, mas o Viagra!”, diz César.

Descontando o período em que namorou duas garotas (no início e no fim de sua estada de quatro anos no Planalto), o diplomata passou quase um ano no que chama de “atividade surubática intensa”. “Uma ou duas vezes por mês, lá estava eu tomando Viagra ou Cialis [medicamento contra disfunção erétil com duração de 36 horas, bem mais do que as oito prometidas pela concorrência] e transando com funcionárias públicas poderosas, garotas de programa de luxo e outras mulheres que, assim como eu, queriam companhia, mas eram muito solitárias”, diz. “No fundo todo mundo busca um amor verdadeiro. E, como ele não aparece, veste a carapuça de comedor. É uma falsa compensação.”

De tanto tomar comprimidos para disfunção erétil em Brasília, em sua volta para o Rio, no ano passado, César se sentiu inseguro. Questionou-se se não estaria viciado no remédio a ponto de não conseguir conquistar mulheres sem ele. “Dificilmente encaro “one night stands“ [“transas de uma noite só”] sem o Viagra. Com ele me sinto viril, poderoso e ainda impressiono a garota”, diz. “Conforme fico à vontade com a menina, vou abrindo mão do remédio. Quero que ela se apaixone por mim e não por um produto de laboratório”, afirma. Segundo o psiquiatra Alexandre Saddeh não existe, em pacientes saudáveis, sem predisposição cardíaca, um perigo que o uso do medicamento possa acarretar. “Essa moçada sofre de disfunção erétil de origem psicológica. O remédio os ajuda a adquirir autoconfiança. E, aos poucos, com psicoterapia, vai sendo retirado”, explica o médico.

Essa insegurança masculina na hora da conquista, somada à recente quebra de patente do Viagra (no final de junho o preço da cartela com dois comprimidos baixou de R$ 66 para R$ 30), tem feito com que o número de jovens que consomem a droga sem indicação médica cresça expressivamente.

Estima-se que, hoje, três em cada dez consumidores de Viagra estejam abaixo dos 30 anos, número três vezes maior do que no início da década, quando o produto foi lançado mundialmente. No Brasil, segundo o Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, 20% dos garotos entre 18 e 25 anos fizeram ou fazem uso frequente do medicamento. A fissura é tanta que, como ele não pode ser vendido sem receita, quem não consegue burlar as farmácias, recorre até aos traficantes. “No Rio existe um dealer conhecido de Pramil, outro desses remédios contra impotência que é ilegal no Brasil, mas comercializado livremente no Paraguai”, diz César. Na mão dele, a cartela com 20 comprimidos sai por apenas R$ 30. “Mais uma prova de que, assim como o ecstasy marcou a geração clubber, o Viagra e seus similares marcaram a minha.”


Asfixia Erótica


A chef de cozinha Margoth, 26 anos, não frequenta casas de suingue, não usa drogas nem transa com tomadores de Viagra. Sua predileção sexual é outra: a asfixia erótica, outra prática crescente entre os jovens. “Descobri que o sufocamento me excitava durante a adolescência, quando lutava jiu-jítsu e curtia golpes como o mata-leão”, diz. “Sentia uma moleza boa, parecida com a do orgasmo. Anos depois, descobri que aquela era só uma das minhas tendências sadomasoquistas.”

Predileções à parte, a excitação pelo sufocamento tem uma razão (química) de ser. “Durante a asfixia, o nível de oxigênio no cérebro diminui e produz um torpor semelhante ao do orgasmo”, explica o psiquiatra Luiz Sperry César, do Hospital Emílio Ribas. O perigo dessa prática é que ela pode ser fatal, como aconteceu com o ator David Carradine e o vocalista do INXS, Michael Hutchance, autoasfixiados durante o ato da masturbação. Nos Estados Unidos, país que hospeda a maioria dos sites que ensinam a fazer asfixia autoerótica, a prática mata de 500 a 1.000 homens por ano, de acordo com o FBI.

“Como sei o quanto isso é perigoso, jamais me sufoco sozinha, somente com meu namorado”, diz Margoth. Das várias formas de sufocamento propagadas pelos adeptos da polêmica prática, ela prefere a com sacos plásticos e o garroteamento (com uso de cordas, lenços ou cintos). “Em duas das quatro vezes por semana que transo com meu namorado, peço que ele me sufoque. Ele gosta, porque se sente no comando da situação e eu gosto porque me sinto comandada”, afirma.

O analista de sistemas Gás Mask, de 26 anos, e sua namorada, Cypher, de 23, vão ainda mais longe na tara pela asfixia. Juntos há três anos, os dois ganharam esses apelidos na cena BDSM porque nutrem verdadeira adoração por transas com máscaras de gás. O aparato impede a entrada do oxigênio no cérebro e possui uma trava de segurança que pode ser acionada, a qualquer momento, evitando desmaios. “Além do prazer físico do sufocamento, sinto um fetiche pela máscara. Tenho ao todo 11 delas”, conta Gás.

Filha única de uma família de classe média de São Paulo, Cypher mora sozinha com a mãe, desde que o pai faleceu, há dois anos. “Sempre tive diálogo com eles. Minha mãe sabe que sou fetichista e pratico asfixia erótica. Ela não aprova, mas respeita. O que já é suficiente”, afirma. Entre os amigos da faculdade onde Cypher cursa o último ano de design, o assunto não existe. “Só as pessoas mais chegadas sabem desse meu segredo. Isso me preserva”, diz a moça. Assim como o namorado, ela também adora as máscaras. “Durante o sexo, me sinto enclausurada, sufocada e vou, aos poucos, ficando com a visão embaçada. Até que, antes de desmaiar, acabo gozando.”

Quando a falta de ar começa a ficar insuportável, cabe à pessoa que está com a máscara dar um sinal (uma batida mais forte, um aceno ou beliscão) para o parceiro que está no “comando”. Aí, ele prontamente aciona a trava de segurança, que permite nova entrada de ar. Na opinião de Cypher isso só funciona se o casal tiver muita sintonia e confiança. “Perdi a virgindade tarde, aos 21 anos, com o Gás. Antes dele, não gostei de ninguém a ponto de me entregar. Ele é realmente o homem da minha vida, a pessoa que eu amo”, diz.


Matéria da Revista MARIE CLAIRE


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